Judi & Eu

Rafael Serfaty
3 min readFeb 26, 2022

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Sempre gostei de gatos. Fico encantado pela aparência esbelta, o olhar penetrante e a enorme agilidade. Adoro como são serenos, com aquele ar de quem só quer ficar tranquilo no próprio canto. Mas o que me pega mesmo é como eu me identifico com a rotina dos bichanos. Ora, quem não gostaria de comer e dormir o dia todo, sem grandes preocupações? É perfeito para um bom preguiçoso como eu.

Meu primeiro contato foi com o finado Pingo, gato da minha mãe de 1994 a 2007 — quando faleceu. A questão é que eu tinha 9 anos na época, e de lá pra cá fiquei muito tempo sem conviver com um animal. Tão acostumado com a nova realidade que, quando o Rodrigo (meu irmão) disse que queria adotar um gato, minha primeira reação foi medo. Medo de as coisas não darem certo, a ponto de não me entender com o bicho. Só que rapidamente esse pensamento mudou, quando uma pequena criaturinha deu seus primeiros passos aqui em casa.

Judith Serfaty Freitas Valle, ou Judi, para os íntimos. Segundo o Rodrigo, o nome foi inspirado em Judith Butler, uma das grandes teóricas do feminismo — e é espantoso como a escolha foi certeira. Logo em seu primeiro dia, Judi não hesitou em explorar todos os cantos da casa, de focinho em pé e muita marra. Curiosa, toma posse do que bem entende, fazendo questão de marcar território e encarar qualquer adversidade. Quer ir ao banheiro e ela sentou no seu colo? Sinto muito, dali não sai tão cedo, meus arranhões na perna que o digam…

Judith funciona como uma máquina — on e off. Quando desligada, até engana os incautos, com sua pose de santa e sonecas constantes. Ao apertar o botão, simplesmente vira o capeta encarnado. Vitimou os inocentes sofás da sala com suas garras, e a pobre árvore de Natal, que foi derrubada três vezes durante a virada do ano. Isso quando não arruma briga com outros felinos. Há uns meses, a família viajou e precisou deixar Judi numa gataria (hotel para gatos, a grosso modo). Toda vez que ela saía da gaiola, provocava os colegas encarcerados. A dona do local classificou a meliante como “selvagem”. Nunca mais a deixamos num lugar assim.

A gatinha malandra, no entanto, é uma companhia bastante agradável. Embora possa causar uma ou outra dor de cabeça, suas peripécias dão uma vivacidade que há tempos eu não via em casa. Os dias ficam mais coloridos, sempre temos uma nova história para contar. E ela pode ser bastante doce quando quer. Afinal, Judi adora a companhia de seus donos. Poucas coisas são melhores que andar pelo apartamento, para chegar a bichana na surdina, roçando na sua perna enquanto clama por carinho. Deve ser a forma dos felinos dizerem “eu te amo”. É recíproco, Judith, e eu espero passar muito mais tempo ao seu lado. Feliz aniversário!

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