Escândalo (Scandal Sheet) — 1952

Rafael Serfaty
2 min readOct 14, 2023

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Direção: Phil Karlson

Sinopse: O editor de um jornal tabloide que se especializou em histórias sensacionalistas de sexo e assassinato, contrata um jovem repórter para descobrir a identidade do assassino de uma jovem mulher. O que o repórter não sabe é que o editor é o assassino, e ele está usando o repórter para cobrir seus rastros e desviar as suspeitas para longe dele.

Nos dias atuais, é comum encontrar filmes que exaltem o papel do Jornalismo. Há inúmeras histórias em que esquemas de corrupção, nas mais diversas esferas, foram levados ao público pela atuação incansável dos repórteres. Mas nem sempre foi assim: no cinema noir, os jornalistas eram verdadeiros crápulas. Escândalo leva isso até as últimas consequências.

Outrora respeitado, o New York Express se tornou um veículo de baixa qualidade, recheado de matérias sensacionalistas. Um dos repórteres chega a omitir informações da polícia. Porém, o editor Mark Chapman (Broderick Crawford) defende esta prática pelo enorme sucesso comercial. É exposto um velho dilema: os fins justificam os meios? O pulo do gato vem quando o próprio editor vira o criminoso e, ironicamente, isso acaba fazendo o jornal dele vender como nunca.

Há uma subversão do gênero: os detetives dão lugar aos jornalistas como investigadores. Steve McCleary (John Derek), repórter ávido pela identidade do assassino, visa o mentor sem fazer ideia. Dois representantes da imprensa marrom em polos opostos ditam o debate ético, no qual a redatora Julie Allison (Donna Reed) questiona os métodos envolvidos. É uma representante do público nesse meio controverso, com a diferença de seguir no escuro enquanto o espectador é cúmplice. Só que Chapman, embora preocupado, nunca interrompe de fato as investigações e tampouco instrui seus comandados a mentir. Há uma linha tênue entre seu comportamento e o êxito do jornal.

Discussões à parte, Escândalo não deixa de ser um bom suspense policial. Ritmo ágil, rápido e tensão crescente conforme novas informações vem à tona. A curta duração (82 minutos) facilita para manter a trama sempre objetiva. Já os diálogos, ácidos, dão charme à sombria atmosfera de Nova York. Em uma época que jornalistas eram vistos como cretinos interesseiros, Escândalo surge como uma obra que discute o poder do jornalismo, tanto como negócio quanto como instrumento na busca pela verdade. Cinema para entreter e fazer pensar.

O filme pode ser visto aqui.

Texto de 30/09/2023

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