Ato de Violência (Act of Violence) — 1948

Rafael Serfaty
2 min readOct 14, 2023

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Direção: Fred Zinnemann

Sinopse: Ex-prisioneiro de guerra, Frank Enley é aclamado como um herói em sua cidade na Califórnia. No entanto, Frank tem um segredo vergonhoso que volta para assombrá-lo quando o colega sobrevivente Joe Parkson surge, com a intenção de fazer Frank pagar por seus atos passados.

Morte, destruição e fome. Seja qual for o conflito, não há vencedores. Um rastro de sangue é deixado para trás em meio a nações combalidas. Na Segunda Guerra Mundial, não foi diferente: o genocídio capitaneado por Adolf Hitler alterou o futuro do planeta. Passado o embate, é hora dos soldados retornarem aos seus lares para recomeçar a vida; mas as sequelas podem ser irreversíveis, vide os protagonistas de Ato de Violência.

Frank e Joe; culpa e vingança, respectivamente. Ambos incorporam lados distintos de uma potente discussão ética-moral, desvelada conforme a narrativa avança. Zinnemann conduz uma trama objetiva, carregada pelas motivações dos personagens e seus demônios interiores. Quando o passado é revelado, por exemplo, não há uso de flashbacks: é contado de forma crua, como uma catarse para a alma torturada que, enfim, pôde extravasar.

Van Heflin (Frank) e Robert Ryan (Joe) estão excelentes na pele da dupla principal. Mesmo com pouquíssimas interações entre os dois, cada um mantém participação relevante no jogo de gato e rato. São figuras complexas, com objetivos sólidos e capazes de despertar a simpatia do espectador, apesar de seus atos questionáveis. Da mesma forma, suas companheiras (Janet Leigh e Phyllis Thaxter) atuam como guias morais, que tentam dar um rumo às vidas dos agora inimigos.

Com exímia condução de câmera, o diretor explora a cenografia de Los Angeles para elaborar sequências noturnas desconcertantes. Atmosfera sombria que realça a presença de Robert Ryan, sempre intimidador. Ato de Violência é, portanto, um thriller de forte carga psicológica. Zinnemann usa os elementos do noir para abordar as dificuldades de cicatrização da sociedade americana do pós-guerra. Sem apelar para sentimentalismo ou maniqueísmo, constrói um drama humanizado. Obra tensa, frenética e áspera.

O filme pode ser visto aqui.

Texto de 30/09/2023

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